Crónica
Dói...dói até à medúla!“Teresa Brissos tem 18 anos, e sofre de leucemia aguda. Pela sua idade e porque não respondeu ao primeiro ciclo de quimioterapia, é considerada uma doente de alto risco. A sua cura depende de um transplante de medula óssea.” , “O Matias tem 6 anos e mora no Porto. Está a fazer quimioterapia, estando a aguardar que apareça um dador compatível para que se realize o transplante de medula óssea…” São-vos familiares? Estes são dois, dos muitos anúncios tristes, entre outros raros de final feliz, que se podem encontrar na página de internet da Associação Portuguesa contra a Leucemia. Uma, das muitas doenças, que precisa de transplante da medula para a cura total.
Possivelmente, nas próximas semanas, estas duas crianças serão salvas, devido ao incrível aumento de dez vezes mais dadores de medula, desde que Carlos Martins veio aos meios de comunicação implorar pela ajuda de todos os portugueses, para salvar o seu filho Gustavo (e este já todos sabemos quem é…). Talvez sejam, e ninguém saberá. A explicação oficial, que pode justificar tal comportamento, é que os portugueses ficaram agora a saber, que existem doentes a precisar de ajuda todos os dias, ficaram agora a saber que existem os Centros de Histocompatibilidade para guardar e salvar gestos indolores, nobres e de elevada grandeza que salvam vidas. É de frisar, que o que me deixa apavorada é o facto da leucemia parecer, ter surgido naquele dia pela primeira vez ao país. Uma novidade quase tão desesperadora, como quando se falou do vírus da Gripe A, ou Gripe das Aves… E não o facto de um pai ter utilizado os meios todos possíveis para salvar o seu filho. Isso, eu percebo! De forma inteligente, e sem qualquer tipo de crítica, os pais souberam, naturalmente, tirar partido dos canais de comunicação que o momento implicava. Nada contra, e nem é isso que está em causa. As várias campanhas e iniciativas de recolha pelo país fora, a mobilização, os apelos, as sensibilizações, as invocações, os discursos em jeito de imploração, resultou provavelmente na salvação dos muitos “Gustavos” do país, da Teresa e do Matias. Somos uma nação de grande coração. É um facto, mas também somos uma nação sem iniciativa própria. Ou pelo menos, perdemo-la! E ter um grande coração sem iniciativa, não chega. Onde está o espírito dos descobrimentos? Onde está a gente que deu novos mundos ao Mundo? Por que raio só depois de ser atríbuido o prémio Nobel ao José Saramago, é que os Portugueses começaram a ler os seus livros? Porque é que é preciso morrer o Angélico, para a prevenção rodoviária ser incansavelmente apelada para a segurança de todos, durante dias? Que se passa? Preocupa-me a forma como é facilmente manipulada toda a sociedade. Por um lado, sem qualquer maldade, ainda bem que as figuras públicas não estão imunes. Estaríamos, pelos vistos, muito pior. O que seria então de nós, anónimos, pobres e simples cidadãos? Verdade é, ao se moverem para ajudar um, o filho de Carlos Martins neste caso, estão a ajudar milhares. Fica bem, mas também fica mal e saber que a maioria funciona assim, dói! Dói, até à medula! |
Helena Pinto - Colaboradora do Impressão
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