Agramonte: um cemitério histórico ao Sábado à tarde
por Luís Mendes
Agramonte é um verdadeiro labirinto de campas, cruzes, capelas e jazigos: um dos cemitérios mais famosos do Porto, não fosse este o cemitério municipal da cidade Invicta. Segundo o site da Câmara Municipal do Porto, só em 1855 é que a situação dos cemitérios no Porto se alterou “um pouco”, uma vez que se deu uma segunda grande epidemia de cólera. “As autoridades civis conseguiram fechar os cemitérios privativos que não tinham condições e, paralelamente, mandaram construir, de forma apressada, um novo cemitério municipal: Agramonte”.
O local sagrado está divido em secções municipais, cemitério privativo da Ordem da Trindade, cemitério privativo da Ordem do Carmo e cemitério privativo da Ordem de S. Francisco. Este cemitério prima pela imensa quantidade e variedade de túmulos. As grutas, que são os Montes de Gólgota, onde Cristo foi crucificado e alguns anjos em mármore que cortam a respirção. A arte sepulcral no Norte é assim mesmo: monumental.
É Sábado e percebe-se bem que assim é pela quantidade de gente que entra pelos portões altos e ferrugentos com flores nas mãos. Estranha-se: há vida a mais para um cemitério. Mas afinal é fim-de-semana. Entra-se na calçada branca, mais que branca e polida, e estão logo os porteiros numa conversa concentrada com pessoas que pedem informações. Há gente que espera à sombra e ao sol, sentados em bancos (que bem podiam ser de jardim) paralelos, ou em pé vagueando de um lado para o outro em cima da calçada polida, mais que polida. Quem passa no centro, à entrada, é olhado e averiguado pelos espectadores que estão sentados.
Estão lá desde famílias inteiras, de mais miúdos a mais graúdos, a pessoas sozinhas que aguardam por outras. Ao fundo é a secretaria, os wc’s e local de arrumos. Há placas a avisar para ter cuidado, e deixar tudo limpo, ou não deixar os baldes com água. “Acho que devia estar mas limpo e cuidado”. Maria Cândida Araújo visita a mãe e a irmã uma vez por semana. “Há muito espaço, mas a terra está cansada e não come os corpos, custam a desfazerem-se”, explica. “É um cemitério muito antigo e municipal. Tem direito a todas as freguesias, a tudo que for da cidade do Porto”. Maria Cândida diz que exige ser enterrada em Agramonte, junto da sua família.
O calor é muito, mas passa uma brisa fresca que faz abanar as folhas das árvores. Os corredores de campas e túmulos são acompanhados de contentores do lixo da Câmara Municipal. O cemitério é asseado. A maioria dos bancos à sombra, estão vazios, bem vazios. “Tenho o meu marido aqui. Venho sempre pôr a luzinha acesa.” Maria de Lurdes vai duas vezes por semana a Agramonte. “Como moro perto da Casa da Música, viemos para aqui”, conta. “Se pensarmos bem, isto é um cemitério de História”, afirma a idosa. Há secções do cemitério que se encontram exactamente como esses bancos, e outras onde o barulho denuncia gente viva, a lavar, limpar, arrumar, pôr flores e velas… Entende-se que seja um dos mais conhecidos do Porto. Existem campas com datas como 1800 e qualquer coisa. Mas o que predomina são os 1900 e muitos (ou poucos, também). Há qualquer coisa de especial neste cemitério. Sente-se tranquilidade. Um pai entra com o filho pela mão e diz-lhe: “gostava era de te ver aqui à noite”. O filho já se vinha a rir e continua a galhofar com o pai. A mãe seguia à frente com as flores na mão com um ar de responsabilidade e de dever. Um carro funerário da Funerária de Matosinhos entra no cemitério, carregadinho de ramos, coroas e ajuntamentos de flores. Segue a seta que diz “enterramentos”, em letras graves e garrafais. É assim a vida em Agramonte: a morte não pára nem pode esperar.
Agramonte é um verdadeiro labirinto de campas, cruzes, capelas e jazigos: um dos cemitérios mais famosos do Porto, não fosse este o cemitério municipal da cidade Invicta. Segundo o site da Câmara Municipal do Porto, só em 1855 é que a situação dos cemitérios no Porto se alterou “um pouco”, uma vez que se deu uma segunda grande epidemia de cólera. “As autoridades civis conseguiram fechar os cemitérios privativos que não tinham condições e, paralelamente, mandaram construir, de forma apressada, um novo cemitério municipal: Agramonte”.
O local sagrado está divido em secções municipais, cemitério privativo da Ordem da Trindade, cemitério privativo da Ordem do Carmo e cemitério privativo da Ordem de S. Francisco. Este cemitério prima pela imensa quantidade e variedade de túmulos. As grutas, que são os Montes de Gólgota, onde Cristo foi crucificado e alguns anjos em mármore que cortam a respirção. A arte sepulcral no Norte é assim mesmo: monumental.
É Sábado e percebe-se bem que assim é pela quantidade de gente que entra pelos portões altos e ferrugentos com flores nas mãos. Estranha-se: há vida a mais para um cemitério. Mas afinal é fim-de-semana. Entra-se na calçada branca, mais que branca e polida, e estão logo os porteiros numa conversa concentrada com pessoas que pedem informações. Há gente que espera à sombra e ao sol, sentados em bancos (que bem podiam ser de jardim) paralelos, ou em pé vagueando de um lado para o outro em cima da calçada polida, mais que polida. Quem passa no centro, à entrada, é olhado e averiguado pelos espectadores que estão sentados.
Estão lá desde famílias inteiras, de mais miúdos a mais graúdos, a pessoas sozinhas que aguardam por outras. Ao fundo é a secretaria, os wc’s e local de arrumos. Há placas a avisar para ter cuidado, e deixar tudo limpo, ou não deixar os baldes com água. “Acho que devia estar mas limpo e cuidado”. Maria Cândida Araújo visita a mãe e a irmã uma vez por semana. “Há muito espaço, mas a terra está cansada e não come os corpos, custam a desfazerem-se”, explica. “É um cemitério muito antigo e municipal. Tem direito a todas as freguesias, a tudo que for da cidade do Porto”. Maria Cândida diz que exige ser enterrada em Agramonte, junto da sua família.
O calor é muito, mas passa uma brisa fresca que faz abanar as folhas das árvores. Os corredores de campas e túmulos são acompanhados de contentores do lixo da Câmara Municipal. O cemitério é asseado. A maioria dos bancos à sombra, estão vazios, bem vazios. “Tenho o meu marido aqui. Venho sempre pôr a luzinha acesa.” Maria de Lurdes vai duas vezes por semana a Agramonte. “Como moro perto da Casa da Música, viemos para aqui”, conta. “Se pensarmos bem, isto é um cemitério de História”, afirma a idosa. Há secções do cemitério que se encontram exactamente como esses bancos, e outras onde o barulho denuncia gente viva, a lavar, limpar, arrumar, pôr flores e velas… Entende-se que seja um dos mais conhecidos do Porto. Existem campas com datas como 1800 e qualquer coisa. Mas o que predomina são os 1900 e muitos (ou poucos, também). Há qualquer coisa de especial neste cemitério. Sente-se tranquilidade. Um pai entra com o filho pela mão e diz-lhe: “gostava era de te ver aqui à noite”. O filho já se vinha a rir e continua a galhofar com o pai. A mãe seguia à frente com as flores na mão com um ar de responsabilidade e de dever. Um carro funerário da Funerária de Matosinhos entra no cemitério, carregadinho de ramos, coroas e ajuntamentos de flores. Segue a seta que diz “enterramentos”, em letras graves e garrafais. É assim a vida em Agramonte: a morte não pára nem pode esperar.